NEGRA MEMÓRIA SOCIAL DO HANDEBOL NO BRASIL: EXPERIÊNCIAS DOS AGENTES SOCIAIS DO CAMPO ESPORTIVO MARANHENSE NO GINÁSIO DESPORTIVO PROFESSOR RONALD DA SILVA DE CARVALHO (SÃO LUÍS–MA, 1970 A 1980)
1Pedro Cure Hallal and 2José Carlos Ribeiro
1Doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel-RS) 2005. Professor Titular no curso de graduação em Educação Física e nos programas de pós-graduação em Educação Física e Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas – PPGESEF/ PPGEpi /UFPel), Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Orientador do Trabalho;
2Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Memoria: Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Aluno do Doutorado do Programa de Pós-graduação em Educação Física da Universidade Federal de Pelotas – PPGESEF/UFPel), Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Professor permanente do Instituto Federal do Maranhão - IFMA, Campus Avançado Rosário, Maranhão, Brasil
O Maranhão possui grande parte da população negra brasileira, embora se desconheça ao certo os dados sobre a experiência sócio histórica desse contingente populacional em terras maranhenses.
Contudo, desde 1950, pesquisadores maranhenses afirmam a importância sobre estudos e pesquisas sobre a população negra maranhense, devido à contribuição para a formação histórico- social do Maranhão (NUNES, 2018). Frente a isso, o objetivo principal deste estudo foi investigar as memórias de quem experienciou o handebol no ginásio desportivo Ronald da Silva Carvalho, entre as décadas de 1970 e 1980, a partir de fontes orais. Desse modo, não se trata de buscar a verdade dos fatos ocorridos, mas, sim as versões com que foram apreendidos e interpretados pelos protagonistas
(ALBERTI, 2005).
METHODOLOGY
O formato teórico-metodológico a fim de responder a interrogação supracitada é Memória social e História oral documental. O método utiliza de entrevistas que aviste a versão do participante. Neste caso, professores e ex-atletas negros ludovicense de handebol dos anos de 1970 a 1980. Considerando o silêncio, esquecimento e apagamento por parte da comunidade científica da memória social negra sobre o fenômeno sociocultural esportivo handebol (principalmente depois do processo redemocrático), a memória e a história oral documental constituem a ser o aporte teórico-metodológico adequado para o tema desta pesquisa, justamente por emergir a luz a perspectiva dos que vivenciaram a experiência (ALBERTI, 2005).
A seleção dos agentes foi estabelecida através dos seguintes critérios de inclusão:
1) cada entrevistado teria que ter vivenciado o handebol nos JEMs por uma escola ludovicense entre os anos de 1970 e 1980; 2) ter sido técnico ou atleta; 3) ter vivência em handebol em escola diferente dos demais entrevistados. Entre os possíveis colaboradores priorizamos aqueles dispostos a realmente em narrar suas memórias e a oferecer informações significativas, conforme o “o bom entrevistador”, preconizado por (ALBERTI, 2005). Ao todo, foram escolhidos quatros entrevistados para constituir a rede de colaboradores desta investigação, são eles:
José Maranhão Penha (71 anos), professor de Educação Física, iniciou sua carreira como atleta escolar na ETFMA no início dos anos 1970, devido aos bons resultados nos JEMs, formado em Educação Física pela Universidade Federal do Maranhão
(UFMA). Após o término do curso técnico da ETFMA foi contratado como professor e técnico de handebol da mesma Instituição Federal de Ensino, onde permaneceu por 35 anos, até o início dos anos 2000. Até o momento da entrevista era professor de Ensino Médio do Liceu Maranhense.
José Henrique Azevedo (66 anos), pedagogo, ex-atleta e técnico de handebol em diversas escolas, iniciou sua carreira como atleta escolar no Colégio Zoé Cerveira no início dos anos 1970, devido aos bons resultados nos JEMs foi contratado como técnico de handebol da mesma Instituição de Ensino, onde permaneceu por vários anos.
Atualmente é professor da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Luís – MA. No momento da entrevista ocupava o cargo de coordenador de paradesporto da Secretaria de Estado de
Desporto e Lazer do Maranhão (SEDEL). Um pioneiro do handebol para pessoas com deficiência intelectual, handebol para DI.
Alexandre Magno Reis Muniz (60 anos), historiador, membro do movimento negro, ex-atleta e árbitro de handebol do JEMs, da Federação Maranhense e da Confederação Brasileira de Handebol, iniciou sua carreira como atleta escolar da UNEB Luís Viana no início dos anos 1970, devido aos bons resultados nos JEMs foi contratado como árbitro, onde permaneceu por vários anos. No momento da entrevista, ocupava um cargo na diretoria da UNEGROMA.
José Francisco Lima Vieira (60 anos), conhecido como Moleza, contador, servidor público estadual, ex-atleta e árbitro de handebol do JEMs, da Federação Maranhense e da Confederação Brasileira de Handebol, iniciou sua carreira como atleta escolar no Colégio Independência no início dos anos 1970, devido aos bons resultados nos JEMs foi contratado como árbitro, onde permaneceu por vários anos. Na ocasião da entrevista era funcionário do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão.
Importante ressaltar que, o estudo faz parte de uma pesquisa de doutorado em andamento, intitulado “Memória Social Negra do Handebol no Brasil: experiências dos agentes sociais do campo esportivo maranhense no ginásio desportivo professor Ronald da Silva de Carvalho (São Luís–MA, 1970 a 1980)”, junto ao Programa de Pós-Graduação da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (PPGESEF/UFPel).
Vale ressaltar também que esta investigação foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, mediante o parecer consubstanciado n. 5.682.666. N. de CAAE: 57920121.5.0000.5313. Dessa forma, todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido e permitiram a divulgação de suas identidades. Os relatos orais foram apreendidos como documento autônomo, logo, as entrevistas convertem-se em princípios de pesquisa, principalmente tendo a cotação de analisá-las a partir da noção de memória social (FENTRESS; CHRIS, 1992), considerando que o indivíduo, no seu depoimento, constrói seus relatos a cargo da rememoração “da própria memória, não menosprezando o fato de ser uma recordação de um acontecimento do passado num momento do presente” (THOMPSON, 2002).
Enfim, optou-se pelo uso dos procedimentos de transcrição indicado por Alberti (2005) para a construção do documento escrito. Desse modo, inicialmente a entrevista foi transcrita integralmente de maneira literal. Após a primeira fase, foram feitas algumas adaptações no texto para tornar a entrevista mais legível (ALBERTI, 2005). Mesmo assim, o documento final transcrito foi remetido aos entrevistados para apreciação e reavaliação do conteúdo do texto.
RESULTS AND DISCUSSION
Considerando com uma das experiências do handebol no ginásio desportivo Ronald da Silva de Carvalho, a investigação lançou luz aos jogos escolares maranhenses, ao campeonato brasileiro masculino juvenil de 1979 e ao campeonato feminino adulto zonal norte que protagonizaram a cena esportiva ludovicense. Desse modo, o handebol nos JEMs (como habitus inicial) esteve presente, segundo os relatos, nas seguintes Instituições de ensino: as públicas foram:
Gonçalves Dias; Centro de Ensino do Maranhão-CEMA; Ueb Ens.Fund Sá Valle; Ueb Ens. Fund Luís Viana e Colégio SESI; Centro de Ensino Coelho Neto; Escola Técnica Federal do Maranhão-ETFMA e
Liceu Maranhense; as instituições privadas: São Lázaro; CIPE; Ateneu Teixeira Mendes; Cardoso Amorim; Ivar Saldanha; Evangelista Rodrigues; Ronald Carvalho; Colégios Humberto
Ferreira; Independência; Zoé Cerveira; Henrique de La Roque; Colégio Brasil; Colégio Pax; Instituto Educacional Freitas Figueiredo (extinto); Instituto Tecnológico-ITA, vira MENG (ambos extintos);
Rosa Castro (só estudavam mulheres e extinto); Colégio Marista, hoje Instituto Tecnológico do Maranhão-IEMA; Dom Bosco; Colégio Santa Teresa; Conceição de Maria; São Luís-extinto; Centro Caixeiral (extinto), hoje a Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA; Colégio Batista Daniel de La Touche ; São Vicente de Paula. Entretanto, nem todos os entrevistados lembraram exatamente as mesmas instituições participantes do certame, não obstante, emergiram na memória coletiva (HALBWACHS, 1990).
Entretanto, nem todos os entrevistados lembraram exatamente as mesmas instituições participante do certame, não obstante, emergiu uma memória coletiva relacionada ao protagonismo do Colégio Batista (no masculino) e do Dom Bosco (no feminino) (HALBWACHS, 1990). Com certeza outros colégios maranhenses participaram do JEMs nesse período, porém as que assentaram na memória dos entrevistados foram as nomeadas acimas. O professor
Mangueirão explicou ao rememorar: Havia um grande interesse das escolas em participar do JEMs,
tínhamos poucos técnicos e uma grande demanda de escolas que praticavam handebol. A maioria dos professores eram técnicos de várias escolas ao mesmo para dar conta que todas tivesse a oportunidade de participar do maior evento de esporte escolar do Brasil, na época (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023). Assim, quanto à compreensão de perceber a memória como uma construção coletiva, cabe salientar que há marcos na vida coletiva e pessoal que são ininterruptos e consolidados na memória. Nesse caso, as memórias individuais afluem a fixar os principais colégios, sendo apreendidas como uma memória solidificada.
O professor José Maranhão Penha avançou para além dos limites da capital maranhense e ressaltou a presença dos colégios do interior do estado no JEMs da época. Segundo a História Oral, apreende-se esse fato, como aspecto relevante ao tratar os dados, já que recordar de escolas do interior pode estar relacionada à origem do professor, já que o interlocutor é nascido em São Vicente de Ferre, município da baixada ocidental maranhense do interior do estado do Maranhão, local com grande quantidade de áreas remanescentes de afrodescendentes (Quilombos), justamente de onde veio para estudar no internato da antiga ETFMA. Portanto, a memória e a identidade são uma unidade.
“[...] a memória é um elemento constituinte do sentimento do sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva”, pontua (POLLAK, 1992). Contudo, trata-se de um estudo regional, com foco no município de São Luís–MA, aferiu-se a possibilidade desse modelo de jogos escolares em investigação feitas em outros estados.
Rememorando os Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (JERGS), Almeida e Fonseca também relataram a prática do handebol do JERGS, em suas falas:
Foram analisadas as inscrições dos estudantes de cada escola participante nos Jogos Escolares Estaduais do Rio Grande do Sul (JERGS), na etapa municipal na cidade de Vacaria de 2009 a 2011. Participaram dos jogos 20 escolas públicas, com alunos do Ensino Fundamental, na categoria infantil, com idades entre 13 e 14anos.As modalidades analisadas foram: Atletismo, Futsal, para apreciação e reavaliação do conteúdo do texto.
RESULTS AND DISCUSSION
Considerando com uma das experiências do handebol no ginásio desportivo Ronald da Silva de Carvalho, a investigação lançou luz aos jogos escolares maranhenses, ao campeonato brasileiro masculino juvenil de 1979 e ao campeonato feminino adulto zonal norte que protagonizaram a cena esportiva ludovicense. Desse modo, o handebol nos JEMs (como habitus inicial) esteve presente, segundo os relatos, nas seguintes Instituições de ensino: as públicas foram:
Gonçalves Dias; Centro de Ensino do Maranhão-CEMA; Ueb Ens. Fund Sá Valle; Ueb Ens. Fund Luís Viana e Colégio SESI; Centro de Ensino Coelho Neto; Escola Técnica Federal do Maranhão-ETFMA e
Liceu Maranhense; as instituições privadas: São Lázaro; CIPE; Ateneu Teixeira Mendes; Cardoso Amorim; Ivar Saldanha; Evangelista Rodrigues; Ronald Carvalho; Colégios Humberto
Ferreira; Independência; Zoé Cerveira; Henrique de La Roque; Colégio Brasil; Colégio Pax; Instituto Educacional Freitas Figueiredo (extinto); Instituto Tecnológico-ITA, vira MENG (ambos extintos);
Rosa Castro (só estudavam mulheres e extinto); Colégio Marista, hoje Instituto Tecnológico do Maranhão-IEMA; Dom Bosco; Colégio Santa Teresa; Conceição de Maria; São Luís-extinto; Centro Caixeiral (extinto), hoje a Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA; Colégio Batista Daniel de La Touche ; São Vicente de Paula. Entretanto, nem todos os entrevistados lembraram exatamente as mesmas instituições participantes do certame, não obstante, emergiram na memória coletiva (HALBWACHS, 1990).
Entretanto, nem todos os entrevistados lembraram exatamente as mesmas instituições participante do certame, não obstante, emergiu uma memória coletiva relacionada ao protagonismo do Colégio Batista (no masculino) e do Dom Bosco (no feminino) (HALBWACHS, 1990). Com certeza outros colégios maranhenses participaram do JEMs nesse período, porém as que assentaram na memória dos entrevistados foram as nomeadas acimas. O professor Mangueirão explicou ao rememorar:
Havia um grande interesse das escolas em participar do JEMs, tínhamos poucos técnicos e uma grande demanda de escolas que praticavam handebol. A maioria dos professores eram técnicos de várias escolas ao mesmo para dar conta que todas tivesse a oportunidade de participar do maior evento de esporte escolar do Brasil, na época (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023). Assim, quanto à compreensão de perceber a memória como uma construção coletiva, cabe salientar que há marcos na vida coletiva e pessoal que são ininterruptos e consolidados na memória. Nesse caso, as memórias individuais afluem a fixar os principais colégios, sendo apreendidas como uma memória solidificada. O professor José Maranhão Penha avançou para além dos limites da capital maranhense e ressaltou a presença dos colégios do interior do estado no JEMs da época. Segundo a História Oral, apreende-se esse fato, como aspecto relevante ao tratar os dados, já que recordar de escolas do interior pode estar relacionada à origem do professor, já que o interlocutor é nascido em São Vicente de Ferre, município da baixada ocidental maranhense do interior do estado do Maranhão, local com grande quantidade de áreas remanescentes de afrodescendentes
(Quilombos), justamente de onde veio para estudar no internato da antiga ETFMA. Portanto, a memória e a identidade são uma unidade. “[...] a memória é um elemento constituinte do sentimento do sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva”, pontua (POLLAK, 1992). Contudo, trata-se de um estudo regional, com foco no município de São Luís–MA, aferiu-se a possibilidade desse modelo de jogos escolares em investigação feitas em outros estados. Rememorando os Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (JERGS), Almeida e Fonseca também relataram a prática do handebol do JERGS, em suas falas:
Foram analisadas as inscrições dos estudantes de cada escola participante nos Jogos Escolares Estaduais do Rio Grande do Sul (JERGS), na etapa municipal na cidade de Vacaria de 2009 a 2011. Participaram dos jogos 20 escolas públicas, com alunos do Ensino Fundamental, na categoria infantil, com idades entre 13 e 14anos.As modalidades analisadas foram: Atletismo, Futsal, Handebol, Futebol, Basquete e Voleibol. Percebemos que o Handebol foi o esporte com menor número de atletas inscritos e o único que não teve a participação feminina nos dois primeiros anos de jogos analisados. A exceção foi no ano de 2011, onde a modalidade superou os números do Basquete e Atletismo e, pela primeira vez, teve meninas participando (ALMEIDA; FONSECA, 2013).
De todo modo, sabe-se que naquele período a presença do handebol era quase predominante nas escolas ludovicenses, no Maranhão e no Brasil, em grande parte com o objetivo performance. Enfim, as
escolas formavam equipes através de parâmetros técnicos e participavam das competições. O professor Mangueirão lembrou que o Colégio Zoé Cerveira ofertava as então denominadas de “escolinhas
esportivas” para cuidar dos alunos menos habilidades técnicas e os times esportivos para os alunos mais habilidosos. Os próprios docentes de Educação Física apontavam os alunos/atletas para integrar as equipes, os treinos eram no contraturno escolar com carga horária semelhante a das equipes de clubes, de acordo com Mangueirão:
A aula curricular iniciava só em março, mas logo após o JEMs que ocorria em outubro e/ou novembro, em dezembro do mesmo ano já começávamos os treinos para formação do novo time do
ano vindouros, assim, não parávamos, treinávamos nas férias e por assim íamos sem interrupções. E eu ainda ere remunerado para isso. Os alunos eram motivados e recebíamos todas as condições de trabalho. Fazíamos um pequeno recesso antes da volta as aulas, pois queríamos ser competitivos e nos preparamos bem para enfrentar os times que jogávamos, como os colégios Cardozo Amorim, Independência, ETFMA, Batistas e outros. Nós tínhamos o objetivo de superar essas escolas que tinha a mesma rotina de treinamentos, que a nossa. Era gratificante tudo isso (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023).
Os resultados em competições norteavam o técnico esportivo, destarte, a carga dos treinos era proporcional à realidade do handebol.
O entrevistado era o responsável pelos colégios Brasil, Silva Martins, Henrique de La Roque e disse que dependendo da categoria, os treinos oscilavam semanalmente entre dois e cinco dias. Mais uma
vez caracterizando o perfil de performance do handebol praticado nas escolas do JEMs naquela época. Isso enseja a experiência de tom saudosista do relato do técnico é capaz até de conexão com as
conjunturas positivas ligadas nas relações de poder ajustadas no período, em adição a financeira, é lógico. Para reflexão, como contraponto: será que esse mesmo aspecto saudosista seria manifestado nos relatos de professores que trabalhavam em distintas escolas públicas ou privadas de menor porte no mesmo campo esportivo? Fala-se isso, visto que, talvez as oportunidades de treinamentos e acesso às competições eram mais incomuns em outros espaços e, provavelmente, as honras pelas conquistas seriam mais restritas em outros relatos. A presença de uma coordenação de esportes no interior da escola, com gestão distintiva da Educação Física, materializava a distinção que era dada ao esporte exercitado fora do currículo. Tal feito foi rememorado com virtude pelo professor Mangueirão:
Nessa época da esportivização, a maioria das grandes escolas de São Luis–MA, separava bem o esporte da educação física. Esta era oferecida com aulas curriculares, habitualmente, no interior da grade horária, ligada ao setor pedagógico da escola, com uma coordenação específica. E existia a coordenação de esporte, onde era oferecido várias modalidades de esportes no contraturno escolar, com iniciação ao esporte, pré-equipes, com times e participações em competições esportivas (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023).
Entretanto, o campo esportivo se apresentava de forma distinta em cada escolar participante do JEMs. Ao escutar os agentes esportivos negros entrevistados, observou-se que as escolas adotaram um modelo diferente de gestão e organização conforme a compatibilidade de recursos humanos e espaço acessíveis. Por exemplo, nos Colégios Cardoso Amorim e Zoé Cerveira, os professores José Pinheiro Silva
(Pinheirinho) e José Henrique Azevedo (Mangueirão) eram apenas técnicos das equipes de handebol escolar das respectivas escolas, enquanto a ETFMA adotava um modelo em que o professor José
Maranhão Penha atuava na Educação Física curricular no turno matutino, no turno vespertino e/ou no noturno como treinador de handebol. Isso ocorria para haver conflito de horários de jogos com as aulas curriculares, tendo em vista que os jogos eram nos turnos vespertinos e noturno. Já em outros colégios particulares a maioria dos professores de Educação Física eram também treinadores de equipes escolares, só técnicos eram poucos (JOSÉ MARANHÃ PENHA, 2023).
A descoberta, a formação e o desenvolvimento dos times de handebol também, de certo modo, dependiam da quantidade de alunos dos colégios. As escolas maiores terminavam por ter um número
significativo de praticantes de handebol, desse modo tinham maiores chances de descobrir novos talentos no handebol. Nos relatos de Mangueirão: Embora os colégios mais ricos cobrem uma taxa adicional, a procura era grande, claro que todos queriam praticar handebol e participar do JEMs. As turmas eram lotadas nessa época. Dessa massificação é que conseguíamos detectar atletas, os novos
talentos e daí fazer um trabalho de formação e desenvolvimento para eles, com pré-equipe, até chegarem a equipe principal da escola (JOSE HENRIQUE AZEVEDO, 2023).
Na ETFMA havia cerca de três turmas de cada nível (ano) escolar, era grande a procura pelo handebol. Com isso o professor Maranhão relatou que não havia dificuldade em formar as equipes por categorias
(infanto e juvenil) e gêneros (masculino e feminino), já que gostava do que fazia e tinha equipamentos esportivos adequados em quantidade e qualidade. Quanto à especificidade do handebol, oferecido pelas escolas maranhenses, claramente havia uma supremacia em relação aos outros esportes coletivos locais, em função dos bons resultados esportivos e conquistas em competições regionais, nacionais e de atletas maranhenses na seleção brasileira de handebol. Esses aspectos foram rememorados por todos os
entrevistados. As mulheres atletas maranhense tinham a mesma performance nacional no handebol, quanto ao masculino, conforme relatou o professor Mangueirão:
[...] lembro muito bem, nos primeiros Jogos Escolares Brasileiro (JEBs) de 1978, Brasília-DF, as duas equipes escolares maranhenses de handebol foram finalistas desta que era a maior competição
estudantil do Brasil na época, infelizmente ficamos em segundo lugar com ambas as equipes (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023).
O habitus esportivo das mulheres, em especial no Brasil, é historicamente construído “por resistências e impedimentos, inclusive por imposição legal”. A proibição de mulheres participarem de esportes que pudessem comprometer a sua condição feminina natural durou até o ano de 1979” (VARGAS; CAPRARO, 2020). Para Bourdieu esse habitus constitui um sistema de práticas, disposições, inclinações dentro do campo social (BOURDIEU, 2012). Dessa forma, naturalmente, os esportes em 1970, ofertados às meninas nos JEMs foram somente aqueles permitidos, de pouco contato corporal,
sendo o handebol feminino, incluído desde o início dos JEMs em 1972, construindo oportunidades para atletas negras e negros maranhenses transformassem o campo esportivo maranhense, brasileiro e mundial. Assim, o handebol feminino do JEMs foi lembrado como pertencente ao habitus esportivo do corpo negro ludovicense, praticado nos jogos, quase que exclusivamente por mulheres negras. Temos como exemplos e ícones nesse esporte em sua época, o surgimento de duas grandes atletas negras, as irmãsTeresa e Fernanda, que começaram a praticar o handebol na escolinha esportiva pública da Secretaria de Desporto e Lazer do Maranhão (SEDEL), com os técnicos Edivaldo Pereira Biguá e o professor Mangueirão, em seguida foram dar continuidade em suas experiências esportivas no JEMs com esse último professor como seu técnico. As relações sociais fora e no interior do campo esportivo são caracterizadas por conflitos, relações de poder e muitas tenções, a memória individual dos colaboradores aponta certo tensionamento. Embora os profissionais do campo esportivo confessassem a amizade que possuíam dentro e fora do campo, não deixaram de rememorar a busca excessiva pelo resultado e competitividade no interior da quadra de handebol, no relato da memória oral de Alexandre árbitro da Federação Maranhenses de Handebol:
[...] Havia uma excessiva competitividade entre os técnicos dos times para tentar se superar e suplantar os outros[...] pois as equipes eram equivalentes técnica e taticamente. O diferencial realmente, muitas vezes, era a estratégias de jogo, já todas as equipes investiam fortemente, inclusive tinham atletas bolsistas, participavam de campeonatos da Federação de handebol (ALEXANDRE MAGNO REIS MUNIZ, 2023).
A SEDEL convocava o técnico do melhor time campeão do JEMs para constituir a seleção maranhense para representar o Maranhão nos JEBs. Esse fato foi relatado pelos colaboradores com sendo um dos
incentivadores da rivalidade entre os técnicos das equipes, pois cada um desejava representar o estado na competição (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023). O orgulho dos técnicos foi lembrado. As escolas
públicas formavam sempre bons atletas negros e brancos, embora trabalhasse em condições inferiores estruturais aos de outros colégios de ponta:
“[...] pois não possuíam tanto recursos como os outros colégios. Você tinha que comprovar que era melhor que o outro mesmo em condições inferiores, digo, a gente se desdobrava em trabalhar para detectar, formar e desenvolver bons atletas e equipes [...]” (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023).
Nesse ponto do relato do professor Mangueirão, verifica-se o uso dos pronomes pessoais. Ao dizer da obrigação de comprovar o bom trabalho de formar boas equipes, Mangueirão usa o pronome “você”,
no sentido de afastamento (ELIAS, 2002). Entretanto quando relata os esforços dos técnicos ele usa “agente”, dando ênfase a sua participação na memória de grupo (POLLAK, 1992). Entretanto,
paradoxalmente, no que se refere à distribuição de bolsas de estudos para alunos/atletas, ele completou: No Colégio Silva Martins, eu relembro que quando era técnico de lá, tínhamos um poder de bolsas,
de negociação bem legal! [...]”. As bolsas oferecidas por várias escolas para alunos/atletas bons era prenúncio de muitas tensões entre as equipes, já que os técnicos tinham livre arbítrio de oferecer
descontos em mensalidades para atletas vindos de outras escolas, o que significava, de certo modo, que havia uma “compra-venda de passe”. Inclusive para aqueles atletas de escolas públicas que passavam a ter oportunidade de estudar em colégios de melhor qualidade, com mais chances de passar no vestibular, quando não ficavam reprovados logo no primeiro ano na escola, por falta do devido acompanhamento pedagógico da escola, já que aqueles alunos vinham de uma escola com menos qualidade no ensino. Relatou o professor Mangueirão:
[...] O handebol era muito forte nos competitivos jogos escolares maranhenses, aqueles alunos/atletas destaques das escolas públicas e privadas de porte médio eram convidados para jogar pelos colégios de grande aporte social e financeiro da capital. Foi o que aconteceu com Fernando Cabeça, do Zoé Cerveira e Tião, do Liceu maranhense, maior jogador de handebol da história do Maranhão e em 1976 foi eleito o melhor jogador do Brasil, que foram para o colégio Batista. Eu fui convidado para ir pra lá
também, mas não fui, fique mesmo no Zoé Cerveira, com medo de ficar reprovado, com Tião ficou, o ensino lá era mais exigente e não tinha um acompanhamento pedagógico específico para os
alunos/atletas bolsista da época, caso que se repete até hoje (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023).
Do mesmo modo, Moleza narrou: Existia uma luta muito grande pelos atletas de destaque, ofereciam incentivos bolsas, foi um marco daquele momento. O ex-atleta do colégio Independência detalhou pela memória: “[...] as escolas queriam montar uma equipe forte, e ainda não queriam correr risco de não ser campeão, assim tiravam dois ou três atletas de outros times! O JEMs era bastante competitivo, muito mesmo!” e relatou mais ainda:
“[...] se havia bastante competitividade entre alunos/atletas, escolas, torcidas, imagina entre os próprios treinadores, que chegavam a se odiar” (JOSÉ FRANCISCO LIMA VIEIRA, 2023). As escolas menores e/ou públicas padeceram formando atletas para serem transferidos para outras equipes de escolas grandes, relatou insatisfeito o professor Mangueirão, já que era o técnico de uma equipe de menor capital social e econômico, não relata o aspecto das bolsas de estudos da mesma maneira saudosista que os técnicos que detinham capital social, econômico e cultural na época. Desse modo, constatamos que o mesmo episódio pode ser narrado de maneiras diferentes, com várias versões, conforme o lugar de fala do narrador no momento, a mesma memória e história com sentidos múltiplos (THOMPSON, 2002; PORTELLI, 2010). A memória afetiva da rivalidade veio átona, também no tocante a comparação entre os esportes no interior do campo esportivo do JEMs no ginásio desportivo Ronald Carvalho. Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu: O campo das práticas esportivas é o lugar de lutas que, entre outras coisas, disputam o monopólio de imposição da definição legítima da prática esportiva e da função legítima da atividade esportiva, amadorismo contra profissionalismo, esporte-prática contra esporteespetáculo, esporte distintivo − de elite − e esporte popular − de massa − etc.; e este campo está ele também inserido no campo das lutas pela definição do corpo legítimo e do uso legítimo do corpo, lutas que além de oporem entre si, treinadores, dirigentes, professores de ginástica e outros comerciantes de bens e serviços esportivos, opõem também os moralistas e particularmente o clero, os médicos e particularmente os higienistas, os educadores no sentido mais amplo − conselheiros conjugais, dietistas, etc. −, os árbitros da elegância e do gosto − costureiros, etc. As lutas pelo monopólio da imposição da definição legítima desta classe particular de usos do corpo que são os hábitos esportivos (BOURDIEU, 1983, p. 7).
Alguns colaboradores tiveram o esmero de ressaltar a amizade fora do JEMs entre os professores: [...] tinha rivalidade no interior do handebol, mas a amizade sobrevive entre os técnicos até hoje, contudo um respeito bastante grande entre nós, com pequenos arranhões, que é natural (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023). Ao abordar a multimodalidade da memória, as fontes orais se avultam.
Com poderia dentro campo esportivo permeado de rivalidade, no qual escolas ofereciam privilégios para que o aluno/atleta transferisse a constituir outra equipe, existia respeito e amizade entre os técnicos e escolas? Portelli (2010) clarifica: Isso deriva, sobretudo, do fato de que a memória não é um ato imediato e binário de retirada de informações já formada, mas um processo múltiplo de produção gradual de significado, influenciado pelo desenvolvimento do sujeito, pelo interlocutor, pelas condições do ambiente.
[...] Os JEMs, nova sigla Jogos Escolares Maranhenses...1974 revolucionou toda uma cidade em termos de esporte ... Quem não praticava, ia assistir, nem que fosse um simples treino. Para onde o colégio se deslocasse, atrás iam os alunos, os dirigentes, o dono e as famílias. Jogavam, torciam, perdiam (brigavam...), ganhavam (que festa! l, muitos se beneficiaram ... Beneficiados. foram aqueles que tinham oportunidade de ser contratados como técnicos. Abria-se mais um campo de trabalho. Beneficiados foram também as lojas de material esportivo, na época apenas uma o DEJAs... (Hoje temos cinco na cidade!) beneficiados foram os alunos que tiveram oportunidade se destacar perante sua gente.
Beneficiados foram os colégios que viriam no esporte uma maneira de se promover... Propaganda comercial era cara, por isso nada melhor do que participar bem dos JEMS, ganhá-lo se possível, para trazer mais alunos, que queriam, obviamente disputar os jogos pelos campeões... Acabava sendo descoberto nova fonte de renda ... Quem mais se beneficiou? O Governo, com uma realização bastante popular; a Prefeitura, com uma movimentação sem precedentes em São Luís. A cidade tornou-se mais conhecida, o maranhão estava sendo desvendado por tantos que vinham de fora para participar, como árbitros ou coordenadores das diversas modalidades em disputa nos JEMs.
Pra que vinha de fora a ordem era "ser muito bem tratado". Seriam os porta-vozes de nossa terra. Hotel, comida farta e saborosa, passeios e lembranças de uma cidade desconhecida para a maioria que se "aventurava"... Bem depressa o Brasil inteiro soube dos JEMS. Nossos convidados aq retornar para suas origens levavam consigo uma imagem fantástica da acolhida recebida; uma fotografia, na memória, de uma competição jamais presenciada no território brasileiro, tanto era o entusiasmo da juventude maranhense... incrédulos, nossos visitantes não entendiam como era possível tanta gente em toda as praças esportivas da cidade. Participação geral! Os jogos iniciavam-se às 6:00 da manhã e terminavam pela madrugada afora, assistidos por uma grande massa popular, que empurrava que sacudia, que entusiasmava seus atletas, sem deixá-los esmorecer um instante sequer. E as garotas?... Como eram lindas, vibrantes em seus sorrisos de satisfação, de alegria permanente, mesmo que suas equipes, ora e vez, perdessem as disputas mais ferrenhas... Afinal estavam tendo a oportunidade de serem importantes como seus gritos de guerra, torcendo desvairadamente pelas cores de seus colégios. Estavam comparecendo e aparecendo " num momento social onde poucas tinham chances de aparecer... Quantas paqueradas, encontros, abraços e beijos vibrantes... Quantos amores nasceram... Quantas uniões se concretizaram... Tudo em função de uma realidade nova. Os JEMS surgiram num momento cruciante, onde a necessidade de explosão de uma massa popular se fazia necessária. Não podia ter aparecido em tão boa hora. Sem repressão, os jovens, os seus amigos mais letrados, os adultos, familiares ou não, jogaram-se de corpo e alma na enorme válvula que se abria, para escapar' das tensões ... Aqui ou ali, apareciam até os aproveitadores. Ofereciam às pessoas menos avisadas uma possibilidade de tumulto, logo contornada pela presença sempre atenta de uma equipe de segurança preventiva, mas que se tornava ostensiva quando necessário fosse... Se alguém fosse passar estas cenas, estas imagens para uma pintura, certamente as cores seriam as mais vivas, as mais brilhantes, salpicadas por pequenos pontos negros...Se alguém fosse contar, falar ou historiar, para ficar gravada em arquivos, logicamente teria que detalhar cada instante, cada experiência, entretanto em cada um dos participantes dessa festa; sentindo o que sentiam, vivendo o viviam, para poder expressar uma verdade nunca antes conhecida por todos [...] (O ESTADO DO MARANHÃO, 05/11/1979).
Os entrevistados relataram a participação de alunos/atletas de handebol escolar do JEMs, em campeonatos organizados pelaFederação Maranhense (FMHb) e pela Confederação Brasileira de Handebol (CBHB). Isso permite apontar o caráter de performance do handebol escolar do JEMs de 1970 e 1980, como podemos aferir nessa série de relatos:
[...] os atletas das escolas dos JEMs participavam em várias categorias dos campeonatos maranhenses de handebol por diversos times como: Dejas, Tupã, Maranhão Atletico Clube, Moto, Sampaio Correia, Grêmio Liteiro Recreativo Português, Jaguarema, Ipem, Aesf, Mirante, Alumar [...] (JOSÉ HENRIQUE AZEVEDO, 2023).
[...] Na época nós participamos de dois campeonatos brasileiros de handebol, pela seleção maranhense, um juvenil em Aracajú -SE, e outro adulto em Fortaleza–CE em 1982. Neste campeonato nossa equipe foi composta pelos goleiros: Aparício, Luís Alfredo (Peneira), Ricardo (Cheira), Lucídio (Orelha), Antônio Carlos (Cú), os irmãos Eduardo e Carlos Alberto (Bebeto) Telles, e pelos atletas negros Eu José Francisco (Moleza), José Carlos (Canhoto), Washigton (Jarrão) e Sebastião Pereira (Tião) (JOSÉ
FRANCISCO LIMA VIEIRA, 2023). [...] Na época as meninas participaram no ginásio Ronald da Silva de Carvalho do zonal norte de handebol feminino adulto, onde jogaram Maranhão, Pará, Amazonas, Amapá. O Maranhão foi campeão após uma final eletrizante conta a bela equipe vencedora do Amazonas, do técnico Valmir. Ainda tivemos neste mesmo ginásio desportivo o Jogos da Escolas Técnicas Federais – JEBEM, quando a equipe masculina da Escola Técnica Federal do Maranhão – ETFMA sagrou-se campeão derrotando a forte equipe do Amazonas, dos alunos/atletas “Piolho” e “Bosco” ambos os irmãos e da seleção brasileira de handebol. Só que pelo Maranhão tínhamos dois atletas negros craques de handebol, o Elizeu e José Damasceno [...] (JOSÉ MARANHÃ PENHA,
2023).
O handebol maranhense tinha uma federação forte em nível nacional, já era bicampeã nacional, conquistou um campeonato adulto masculino em 1976 na cidade de Niterói-RJ, onde o atleta negro “Tião” foi eleito o melhor jogador do Brasil, e outro juvenil masculino em 1979, aqui em São Luís-MA. Assim tinha campeonatos forte e equilibrados, que participavam tantos atletas escolares, como os federados. Já que foi necessário para alguns atletas escolares que o nível do JEMs era baixo pra eles e para as equipes do colégio deles.
Então criamos e procuramos competições mais equilibradas e fortes a nível estadual e nacional, para isso as federações e confederações foram excelentes REIS M [...] (ALEXANDRE MAGNO UNIZ, 2023).
Na época não tínhamos clubes de handebol maranhense fortes disputando competições brasileiras. Por isso, o grande capital financeiro investido nos JEMs, transformou um pouco a distinção entre o habitus o handebol escolar e o de handebol adulto de seleções em termos de sucesso esportivo nacional, ficando no mesmo patamar.
No adulto e juvenil masculino fomos campeões brasileiros, enquanto nos JEBs foram várias finais, com medalhas de pratas tanto no feminino como no masculino em conformidade com o modelo escolar
nacional, com as devidas especificidades. Os atletas conciliavam jogar, ao mesmo tempo, pelas escolas e pelos clubes nos campeonatos da FMAHb na fase de sua formação, comprovando que a formação esportiva escolar era compatível ao do clube. Esse fato aponta para o modelo piramidal de formação do atleta, isto é, o handebol era apresentado ao aluno na aula curricular de Educação Física, e aqueles que acusavam mais competências e habilidades para o handebol eram direcionados para os times escolares e, em seguida aos clubes (VARGAS; CAPRARO, 2020). Através da participação do atleta escolar no JEMs, os destaques passavam a integrar os clubes esportivos ou, em seguida, as associações acadêmicas esportivas universitárias participantes dos Jogos Universitários Maranhenses (JUMs) e, posteriormente, a seleção maranhense universitárias de handebol participante dos Jogos Escolares Brasileiro (JUBs). Esse foi o percurso de muitos atletas negros maranhense que experienciaram o handebol nos JEMs no ginásio de desporto Ronald Carvalho, na época (RIBEIRO, 2018). Os colégios estabeleceriam parcerias com empresas e clubes. Assim o Colégio Cardoso Amorim representou a empresa comercial de material esportivo “DEJAS” Magazine no campeonato maranhense de handebol infanto masculino de 1977.
Essas estratégias, segundo os colaboradores, foram benéficas para ambas as instituições envolvidas nas parcerias. Para empresas e clubes, logo eram representados nas competições ganhando publicidade na imprensa esportiva vendendo suas marcas; em contrapartida as escolas públicas principalmente era uma maneira de proporcionar aos atletas negros e pobres, em sua maioria, a participarem em competições federadas sem custo (ALEXANDRE MAGNO UNIZ, 2023).
CONCLUSION
Através dos dados encontrados na memória oral das entrevistas e da memória escrita foi permitido investigar outras histórias e memórias nos JEMs pelos agentes negros do handebol maranhense do ginásio, expandindo espaço de diálogo para a amplitude do campo esportivo. Assim, vale rememorar alguns resultados desta investigação listados a seguir: o JEMs foi um evento competivo; os colégios tinham um handebol de rendimento; o subcampo handebol escolar do campo esportivo era uma fotografia do handebol rendimento; havia um hegemonia de títulos das escolas particulares; havia maioria de atletas negros, negras e pobres nas escolas públicas; o maior atleta de handebol maranhense foi o negro “Tião”; os times eram prestigiados dentro e fora das escolas; na maioria dos casos, técnicos contratados exclusivos para treinar os times de handebol; as equipes participavam de campeonatos estaduais e nacionais; não havia distinção entre o handebol escolar e de clube; havia parceria entre empresas, clubes esportivos e escolas. Trabalhar com relatos orais a partir das memórias de agentes negros emergiram novas versões de um fenômeno sociocultural muito criticado no período da década de 1970, em pleno regime militar, e aparentemente silenciados, apagados e esquecidos pelas investigações acadêmicas da área, principalmente, quando se trata dos excluídos da produção científica, com as minorias e os negros do Brasil. Conforme (POLLAK, 1992) chama de “período calmos”, justamente quando a identidade e memória andam juntas.
Então, pelo fato de o interlocutor ser um negro e se mostrou concordante às críticas acerca do memoricídio das negras e negros na produção científica brasileira, demonstrando inquietação e compartilhar do mesmo habitus negro esportivo, os colaboradores rompem o silêncio para emergir as lembranças nas narrativas carreadas de emoção, saudosismo e compromisso ao protagonismo do povo negro.
REFERENCES
Alberti, V 2005. Manual de história oral. FVG, Rio de Janeiro.
Almeida, UM, Fonseca, GMM 2013. Jogos Escolares de Vacaria: retrato da participação dos estudantes. Caderno de Educação Física e Esporte. 11, pp. 89-99.
Bourdieu, P 1983. Como é possível ser esportivo? Questões de sociologia, Marco Zero, Rio de Janeiro.
Bourdieu, P 2012. O poder simbólico, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.
Capraro, AM, Vargas, PI 2020. “Era Competitivo, Era Muito Competitivo: memórias do esporte escolar de rendimento em escolas particulares de Curitiba (1980-1990). J. Physi.Educ.v. 13, e 3111.
Elias, N 2002. Teoria simbólica, Celta Editora, Oierias, 2002.
Halbwachs, M 1990. A memória coletiva, Vértice, São Paulo.
Nunes, HR 2018. Memórias dos Negros na Formação do Tambor de Mina em São Luís do Maranhão (1888-1945), Mestrado em Memória: Linguagem e Sociedade) Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia.
Pollak, M 1992. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, v. 2, n. 3, pp. 3-15.
Portelli, A 2010. Ensaios de História Oral, Letra e Voz, São Paulo, 2010.
Ribeiro, JC 2018. Memórias da organização profissional do campo e habitus esportivo maranhense: Associação dos Profissionais de Educação Física, Esportes e Lazer do Estado do Maranhão –
APEFELMA (1980- 2000), Mestrado em Memória: Linguagem e Sociedade), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Thompson, P 2002. H
Nenhum comentário:
Postar um comentário