Desde que defendíamos a bandeira da Brazilian Top Team, criei uma admiração por Roberto Godói.
Cara muito bacana, diferenciado pela educação e trato com as pessoas.
Acompanho Godói a muitos anos, estive diversas vezes ao lado da área em que lutava acompanhando de perto suas lutas e algo que sempre me marcou em Godói, o fato de nunca estar só, sempre acompanhado por alunos e amigos apaixonados. Godói é um desses caras que admiramos por ele sempre ter acreditado na sua arte, o Jiujitsu, desde quando eu me lançava nos campeonatos no Rio de faixa azul, já tinha uma rapaziada muito forte da academia Godói e Macaco caindo pra dentro e representando São Paulo de uma forma diferenciada; fazendo frente. Godói se firmou com o Jiujitsu, cresceu como professor, como competidor e ser humano.
Depois de tanta história dentro da arte suave, algo me chama sempre atenção em Godói, o digamos " ar juvenil " que ele se lança nas competições. A vontade e principalmente a alegria de estar ali se testando ( sem ter mais nada o que provar ) o faz alguém diferenciado, especial ( sou suspeito )
Godói acaba de escrever mais um capítulo em sua história como lutador e professor, fazendo um dos campeonatos mais bonitos da sua vida, enfrentando lendas do Jiujitsu e fincando de vez a sua bandeira de um professor exemplar para não só os seus mas para todos que vivem o Jiujitsu lifestyle.
Conversei com Godói que como sempre foi de uma elegância e gentileza absoluta, confira o bate papo com esse que já pode se considerar uma lenda do Jiujitsu após 7 lutas campeão Super-Pesado e Absoluto World Masters 2016
Quis saber de Godói qual o segredo para tanta longevidade, o lutar vibrante, a questão da motivação que geralmente vai e vem na gente e esse prazer e alegria: qual o processo?
" Fala Olivar, na verdade é uma soma de fatores que fazem essa
chama para eu estar competindo e permanecer sempre acessa, primeira é a paixão
pela nossa arte, costumo brincar com meus alunos que quando estou dentro do
tatame, aquilo ali pra mim é lazer, trabalho é quando eu estou fora, na rua,
segundo é um grupo grande de alunos que estão comigo a 20, 25 anos, atletas
muito duros, que me fazem ficar sempre buscando e ficando antenado com as
técnicas novas mesmo que eu não consiga coloca las no meu jogo eu tenho sempre
que pratica las , sou faixa branca nelas e me ponho nesse lugar, então pratico,
treino, mesmo que eu não consiga executar mas para que eu consiga entender,
consiga passar uma defesa para meus alunos, para talvez passar um institucional
básico pra eles, nesse tipo de posição, segundo é, sei lidar muito bem com
minhas vitórias, minhas derrotas então eu não tenho medo de perder ali dentro,
isso é um grande passo, eu vejo muitos institucionais agregados à competição,
só tem ganho, não tem derrota, tem dias que aprendemos mais que ensinamos, mas
vem um paralelo com a competição que é qualidade de vida, pois eu me poupo de
sair, me privo de comer bobagens, eu treino mais, então tem todo esse
institucional agregado, independente se der certo ou não no dia da competição a
vitória já veio, então sei muito bem lidar com isso que é um fator importante,
o reconhecimento dos amigos , dos alunos que conseguiram êxito na competição ,
caio pra dentro não só para ganhar mais uma medalha, mais sim ganhar com relevância,
fazer as tuas posições acontecerem , isso é fascinante, isso é uma paixão
também, porquê quando se treina, treina, treina, se tem aquelas posições mais
básicas , as medianas e as mais evoluídas ai você consegue lá aquele golpe que
você tanto treinou, que você idealizou naquele acontecer naquele dia e
aconteceu numa final, é tudo maravilhoso, faz perpetuar aquela chama que faz
parecer que eu tenho 16 anos e que me faz querer competir o resto da vida se
Deus me permitir .
O que sempre me fez observar Godói de um outro ângulo é o fato de que Godói nunca luta só, está sempre acompanhado de amigos/alunos com muita paixão, amizade e muito respeito, e é essa relação com os alunos e amigos que eu quis compreender melhor e assim me explicou Godói:
" Na verdade é uma relação de família, muito deles eu convivo
muito mais que com meus irmãos , porque to la no dia a dia com eles por 20
anos, 25 anos, eu estou com academia naquele mesmo ponto, ano que vem fazem 20
anos que estou naquele ponto, então é uma relação de carinho cuidado, muito
mais de formar grandes atletas para competir, de formar pessoas melhores, eu
com o Jiujitsu tento ajudar o maior número de pessoas possíveis, eu nunca vi o
Jiujitsu prejudicar ninguém, mais vi o Jiujitsu salvar muita gente, os valores
que nós perpetuamos durante 1h, 1 h e meia são valores morais que muitas vezes ficam
perdidos numa cidade tão agressiva como São Paulo onde eu vivo, então a grande
labuta é que durante as 22, 23 h que as pessoas estão foras do tatame seja
igual aquela hora, hora e meia que estão dentro do tatame, porquê lá é que
perpetuamos a disciplina, respeito, amizade, fair-play, e isso que nós devemos
tentar transcender ao tatame e levarmos para a vida, e com certeza a pessoa vai
ficando cada vez mais confiante nela e isso reflete em todas as esferas da vida
dela, então essa pessoa se torna uma pessoa melhor para a família dela, para
pessoas do seu convívio e nisso está a grande gratidão e ai nós vamos pegando amizade, afinidade e
vemos que muita das vezes a pessoa chegou ali mas não está muito bem, acabamos
dando uma palavra, um abraço, vamos pegando afinidade, e vamos cada vez mais
interagindo em nossas vidas em conjunto , fico imensamente feliz de ter esse
grupo ai super casca grossa, se eu citar um ou outro nome estarei sendo
injusto, mas com certeza tem aqueles atletas que se pegam todo dia comigo que
eu posso enaltecer como o Charles Farias o Duende, André Macedo o Cabrum, Elber
Soares o Gurí, Celso Brito, Jurandir Vieira, o Rodrigo Didão , Julio Pinheiro, Alisson Soneca, são eles
que me apertam, são eles que chegam com novas posições que dizem “Mestre, vamos
fazer assim, vamos fazer assado, não para, mas eu sou pião de treino, sou um
cara bom de treinar cansado , treinar machucado, sou bom de treinar quando os
outros querem parar, essa galera me faz estar preparado pra chegar ali no
tatame preparado, a vitória é incerta, mas fazer um bom papel com certeza
estarei lá para fazer.é tanta gente Olivar que pra você ter ideia fizemos nossa
graduação anual com todos os professores juntos e estamos com um número de 970
faixas por anos e esse ano talvez dê 1.000 trocas de faixas anual, nós estamos
em 69 unidades em São Paulo, um montante de 5.000 alunos pra você vê como
falando só esses nomes estou sendo injusto, mas são nomes que tenho que
enaltecer e outra infinidade, são todos
que elevam meu nível, as meninas que eu faço o meu primeiro rola para aquecer
meu corpo, os menos graduados onde colocam as posições que ainda não estão
fluindo direito, são os meus campos de teste, os mais graduados que me apertam
e me batem direto, direto, é até engraçado que falo sempre para os meus alunos
que sei lidar muito bem com essa coisa de apanhar muito antes da competição,
então sempre que estou treinando muito, que está perto da competição quase
sempre eu estou apanhando, poucas vezes eu estou batendo nos caras, chegando na
véspera da competição eu estou apanhando, apanhando deles, eu sei lidar bem com
isso, ai eu passo uma borracha em todos esses treinos em minha cabeça para não
entrar como estímulo negativo, tipo como se eu estivesse mal, mas entendendo
que os caras sabem fazer a leitura do meu jogo, que eu estou um pouco cansado,
eu passo uma borracha e chego na competição como ? – Com o sentimento de dever
cumprido, que não estou lá á toa , que treinei muito que se apanhei e bati nos
meus alunos eu estou na verdade super treinado e pronto para aquele momento,
então sou muito agradecido por ter essa galera do bem comigo que tá ali sempre
gritando comigo, na vitória ou na derrota, porquê é como eu falei, é mais que a
competição e sim o lifestyle do Jiujitsu e estamos juntos para evoluir não só
no Jiujitsu mas como pessoa evoluindo a cada dia.
Tive que comentar com Godói sobre seu trabalho na net, vídeos de posição que eucostumo atacar e que de repente me ví pegando posições nos vídeos do Godói pela simplicidade e didática usada num trabalho muito bacana, Godói me contou sobre:
" Eu sou contra Olivar algumas coisas que vemos na internet ,
na tv porquê na verdade aceita tudo né,
porquê como dizem, falar até papagaio fala, você chega a ver coisas até
de atletas de renome que chega a ser gritante que você pensa poxa coitado do fã
desse cara tão novo no Jiujitsu e entrando numa roubada em tentar colocar no
jogo dele aquela posição porquê em minha humilde opinião tem coisas alienadas e
muito mal colocadas , mas ao mesmo tempo o mundo ficou pequeno com a internet ,
a Globalização realmente veio então qualquer coisa que você posta hoje
rapidamente chega do outro lado do mundo então isso deve ser trabalhado por
pessoas sérias para que seu trabalho seja conhecido por outras pessoas sérias
então pensando nisso eu elaborei algumas posições em vídeos, posições essas
todas que eu executo, não tem nada, alí não tem nada de lenda, de posição
enganosa, são posições de verdades, concretas que uso no meu dia a dia, quem
treina comigo sabe, inclusive esse golpe que eu peguei na final do absoluto eu
já peguei no Pan duas vezes , já peguei no Brasileiro, na academia eu uso
frequentemente, tem esse golpe postado em vídeos em posições lá atrás então
faço questão de passar um pouco do meu trabalho mostrando posições relevantes e
que eles poderão executar e com certeza eu de fato acredito nelas , então eu
acho importante para todo professor/lutador usar esse canal, além de ser um
marketing você pode ser visto por uma pessoa do outro lado do mundo que vai
realmente identificar que você tem um trabalho sério, abrir portas em outros
países, mostrar seu trabalho, dar a oportunidade para pessoas que não podem
encostar em nós, em estar perto terem acesso aquelas posições lógico que
existem muitos detalhes que a pessoa ali não vai pegar mas a grosso modo ela
vai entender. Eu costumo falar para os meus alunos que na minha época não tinha
internet, não tinha nada, eu ia as competições e ficava atento nos detalhes do
golpe, porquê se você pegou, pegou, se não, não tinha como, hoje em dia está
mais fácil com esse esquema está tudo mastigadinho, por mais que não tenha o
fino trato que são os mínimos detalhes, já dá para a pessoa ter uma ideia , eu
sinto realmente que atletas de outras equipes eles usam isso porquê vem muitas
perguntas , muitas indagações; “ professor mas e aquele detalhe... professor me ajuda com isso ... “ e eu fico
feliz, porquê independente de ter minha equipe eu acho que o mais importante
que o Roberto Godói fez foi ter contribuído para o crescimento do Jiujitsu como
um todo, no meu Estado, posso falar porquê não no mundo eu participei de tudo
desde o início, do Panamericano, das principais competições, ter contribuído de
todas as formas possíveis pois as principais equipes rivais são formadas por
vários ex alunos meus, e é isso ajudar no crescimento do Jiujitsu, porquê eu
sou fã do Jiujitsu, como eu falei já, ele salva pessoas e nos deixa melhor a
cada dia, então a minha missão é ajudar a maior quantidade de pessoas possíveis
através desse dom que Deus me deu."
Momentos marcantes na carreira de Roberto Godói eu guardo como a luta do Telles, viajando por várias situações ao ipon seoi do Saulo Ribeiro, culminando nesse campeonato perfeito, quis perguntar exatamente o que passa na cabeça dele após tudo isso ser brindado com um campeonato perfeito, Godói foi bem direto:
" Olivar meu irmão, como eu te falei eu sei lidar muito bem
com a vitória e com a derrota, porque eu não me senti derrotado quando não
venci e sim eu tive aprendizado, e eu acho que essa é a soma do Jiujitsu, eu
cheguei onde cheguei hoje porquê eu sou um cara persistente , um cara que mais
do que ganhar soube cair e levantar, e é isso que me move, de as vezes eu
perder e entender direitinho na minha cabeça, tipo poxa Godói você deu mole
nesse momento, ta
faltando essa sintonia fina, essa chama me move me faz querer cada vez mais melhorar,
polir minhas posições, eu sou na verdade Olivar fã desses atletas, todos esses
atletas que caem pra cima de mim, me enfrentam , que estão ali no tatame
comigo, como eu citei até no meu post, “ onde muitos tem medo de colocar os
pés, parabéns para aqueles que colocam a cara no tatame, ali eu sou vejo
vencedores, então esse sucesso que tive agora no Mundial, já passou, foi ali
naquele dia, ganhei, bola pra frente e vamos treinar mais, tem tanta coisa para
evoluir, Jiujitsu é muito vasto, tem tanta coisa que eu me considero faixa
branca, que eu tenho que melhorar, então essa que é a luta, fico feliz
realmente de estar com aquelas feras ali no tatame, que minhas posições
aconteçam, e o desafio continua, estou com 42 anos, não sou mais nenhuma criança
ainda, mas sei que ainda tenho muita lenha pra queimar e isso só faz eu me
motivar mais só faz eu saber que estou no caminho certo, meu estado mental para
competição é muito favorável, cada dia que passa eu melhoro, tenho mais
confiança no meu jogo, e pô vida longa a todos que possamos juntos fazer muita
força ainda no tatame com esses caras que sou muito fã."
Olivar Leite.
Essa reportagem é instigante. Que saudade imensa que bateu, de competir. Vou voltar a treinar segunda...
ResponderExcluirMuito bacana, já tive a oportunidade de treinar com o mestre Roberto e realmente é um cara diferenciado. Show de bola a entrevista !
ResponderExcluirEntrevista nota mil. Cada palavra do mestre Roberto Godoi é uma lição tanto para o jiujitsu, quanto para a vida. Orgulho de ser um discípulo dessa família. Oss
ResponderExcluirhttps://youtu.be/d_NCVXxz2M4
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